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Do parente ao colega de trabalho: como identificar um narcisista? Especialista explica
Publicado em 19 de março de 2024 às 19:46
Do parente ao colega de trabalho: como identificar um narcisista? Especialista explica Nem todos os narcisistas são CEOs, celebridades ou personagens de uma série policial. Divulgação/Pinterest

Fala resenheiros de plantão!


Caetano Veloso colocou até em música: “Narciso acha feio o que não é espelho”. Identificá-los não é fácil. Mas eles podem estar na sua casa, no trabalho ou no círculo de amigos. Sabe aquele colega de trabalho que constantemente se gaba ou o chefe que sempre atribui exclusivamente a si os méritos do trabalho em equipe? Essas são características comuns de quem pensa estar acima dos demais, monopolizando as conversas e buscando incessantemente os holofotes: o narcisista, ou melhor, o portador do Transtorno de Personalidade Narcisista.


A psicanalista Debora Guerra explica que o transtorno é um traço de personalidade caracterizado por um interesse excessivo em si mesmo, uma necessidade de admiração constante e uma falta de empatia pelos outros. “Isso pode se manifestar em um senso de superioridade, uma busca por atenção e validação, e uma exploração dos outros para alcançar objetivos pessoais”, fala.


O termo vem da mitologia grega clássica. O caçador Narciso era filho do deus do rio Cefiso e da ninfa Liríope. Ele era conhecido por sua beleza e corpo excepcionais. Um dia, quando Narciso estava caminhando na floresta, a bela ninfa Eco o avistou e se apaixonou por ele. Mas ele rejeitou seu afeto, deixando seu coração partido. Como punição, Nêmesis, a deusa da vingança, o atraiu para uma poça d'água onde ele se deparou com seu próprio reflexo pela primeira vez. Narciso se apaixonou por sua imagem e acabou percebendo que seu amor não poderia ser correspondido, definhando até a morte. 




A psicanalista Debora Guerra explica que o transtorno é um traço de personalidade caracterizado por um interesse excessivo em si mesmo - Foto: Reprodução/Instagram 



Segundo Debora, o transtorno de personalidade pode ser identificado através de uma série de comportamentos e traços, que segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) são:


- *Falta de empatia.* Não conseguem ou não tentam reconhecer as necessidades e sentimentos alheios;


- *Grandiosidade.* Exageram conquistas, buscam reconhecimentos mesmo sem merecerem e diminuem o outro constantemente; 


- *Se acham especiais.* Acreditam que são superiores e só podem se relacionar com pessoas igualmente “especiais”;


- *Exigem privilégios.* Querem tratamento VIP em todos os lugares que frequentam;

- *São invejosos* e acreditam que todos sentem inveja deles;


- *Não têm limites.* Sonham com possibilidades ilimitadas de poder, sucesso e conquistas; 


- *Querem aplausos.* Buscam admiração constante e excessiva. Querem sempre elogios e reconhecimento, por exemplo; 


- *Exploram os outros* Querem dedicação sem reciprocidade e mantêm relacionamentos que aumentam a sua autoestima;


- *São arrogantes.* Monopolizam as conversas e ignoram quem consideram “inferiores”, são vaidosos e pretensiosos.


Um estudo da Universidade de Buffalo (EUA) revelou que os homens apresentam comportamentos narcisistas com mais frequência do que as mulheres. A conclusão foi feita após a análise de dados de 355 pesquisas sobre o assunto, realizadas em um espaço de 31 anos.


Há uma certa tendência em acusar mulheres de serem narcisistas e isso pode ser atribuído a vários fatores sociais e culturais. Segundo Debora, o que pode contribuir para esse pensamento são os estereótipos de gênero, expectativas sociais, percepção de ameaça e diversos outros fatores. 


Como saber se está lidando com um narcisista?


O narcisista tem um modo de agir com suas vítimas. A psicanalista Debora Guerra dá alguns exemplo de como a vítima pode se sentir:


*Manipulação emocional:* Um narcisista pode manipular emocionalmente sua vítima de várias maneiras. Por exemplo, ele pode fazer constantes promessas de mudança de comportamento para manter a vítima presa ao relacionamento, mesmo que suas ações não correspondam às palavras. A vítima pode ser levada a acreditar que é responsável por consertar o narcisista ou que é incapaz de encontrar alguém melhor.


*Exploração:* O narcisista muitas vezes explora a vítima para atender às suas próprias necessidades, sem considerar os sentimentos ou bem-estar dela. Isso pode incluir o uso da vítima para obter recursos financeiros, emocionais ou sociais. Por exemplo, um parceiro narcisista pode esperar que a vítima assuma todas as responsabilidades financeiras enquanto gasta dinheiro de forma irresponsável em seus próprios interesses.


*Isolamento social:* O narcisista pode tentar isolar a vítima de amigos e familiares, minando suas outras relações e criando uma dependência emocional dele. Isso pode acontecer por meio de críticas constantes aos amigos e familiares da vítima, ou até mesmo proibindo-a de passar tempo com eles. Por exemplo, um narcisista pode fazer comentários negativos sobre os amigos da vítima, levando-a a se afastar deles gradualmente.


*Gaslighting:* O narcisista pode usar táticas de gaslighting para fazer a vítima duvidar de sua própria sanidade e percepção da realidade. Por exemplo, ele pode negar eventos que realmente aconteceram, distorcer a verdade ou fazer a vítima se sentir culpada por seus próprios sentimentos legítimos. Com o tempo, a vítima pode começar a duvidar de sua própria memória e se tornar mais suscetível ao controle do narcisista.


*Desqualificação constante:* O narcisista pode constantemente desqualificar os sentimentos, opiniões e conquistas da vítima, minando sua autoestima e confiança. Por exemplo, ele pode menosprezar os sucessos da vítima, dizendo que não são tão importantes quanto os dele, ou desvalorizar seus sentimentos, dizendo que está exagerando ou sendo sensível demais.


Existe tratamento para o narcisista?


Um narcisista em geral não se reconhece como tal, por isso, nem sempre o narcisista procura tratamento voluntariamente. Então, ele só vai buscar ajuda quando começar a sofrer com o seu próprio narcisismo. Debora esclarece que na psicanálise, o tratamento geralmente envolve abordagens que visam explorar as raízes profundas do comportamento narcisista e promover mudanças significativas na personalidade do indivíduo.


“É importante observar que o tratamento na psicanálise é um processo complexo e muitas vezes demorado. Requer um compromisso significativo por parte do paciente e do terapeuta, assim como uma disposição para explorar aspectos profundos e muitas vezes dolorosos da psique do indivíduo”, explica.


Outro ponto que a psicanalista destaca é que o narcisismo frequentemente coexiste com outros transtornos psicológicos, como transtornos de humor, transtornos de personalidade e transtornos relacionados ao uso de substâncias. Compreender essas comorbidades e suas interações é importante para um tratamento eficaz.

Por: Edu Coutinho

Edu Coutinho

Edu coutinho é o idealizador do Portal Resenhando e colunista principal

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